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terça-feira, 27 de abril de 2010

A água no limite - por Daniela Estrada



O Protocolo Mundial da Água, que se pretende incluir nas negociações do tratado pós-Kyoto, torna evidente a urgência de se regular um bem escasso, que deve ser patrimônio da humanidade.

SANTIAGO, 19 de janeiro (Tierramérica).- Em matéria hídrica, “a humanidade não tem consciência do perigo a que está submetida e vai agir somente em situações-limite. A má notícia é que esses limites se aproximam”, disse ao Terramérica Manuel Baquedano, presidente do não-governamental Instituto de Ecologia Política. Baquedano estará a cargo de um dos painéis da conferência “Fazer a paz com a água”, que acontecerá dias 12 e 13 de fevereiro na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas, organizada pelo Fórum Político Mundial, presidido pelo ex-líder soviético Mikhail Gorbachov (1985-1991). Na conferência será discutido o rascunho do Protocolo Mundial da Água, que se pretende incluir nas negociações internacionais sobre o tratado que substituirá, em 2013, o Protocolo de Kyoto (1997).

O Terramérica conversou com o ambientalista chileno de 59 anos, um sociólogo formado pela Universidade Católica de Lovaina e autor do livro “Sua pegada ecológica” (2008).

TERRAMÉRICA: Com surgiu a proposta do Protocolo Mundial da Água?

MANUEL BAQUEDANO: Tem um longo período de maturação, já que recolheu todas as demandas em relação à água emanadas dos fóruns mundiais e da Assembléia Mundial da Água (para Representantes Eleitos e Cidadãos, do Parlamento Europeu). Isso se traduziu em um diagnóstico sobre a situação mundial da água e da necessidade de regular um bem escasso, que deveria ser patrimônio comum da humanidade, mas que em alguns países, como o Chile, é privatizado. A humanidade pode viver sem petróleo, mas não sem água. Todo o mundo fala da crise climática e dos problemas de energia. O segundo componente vital desta trilogia será a água.

TERRAMÉRICA: Pode adiantar algo sobre o rascunho do Protocolo que será debatido em Bruxelas?

MB: O objetivo de redigir este Protocolo é criar uma pré-negociação entre Estados. É um processo longo. Pessoalmente, não em nome da organização, calculo que vai demorar de 12 a 15 anos para que os Estados o aceitem. Portanto, o objetivo é que seja inscrito na agenda a ser negociada no período 2010-2012, com vistas a um acordo pós-Kyoto, em 2013. Estamos buscando um pacto público intergovernamental sobre a água.

TERRAMÉRICA: A seu ver, quais serão os temas mais críticos do Protocolo?

MB: Primeiro, declarar a água como bem público universal. Segundo, criar uma autoridade mundial que a regule e que os Estados assumam o controle da água.

TERRAMÉRICA: Como serão restringidos os interesses empresariais?

MB: Propomos uma autoridade mundial da água, que estaria coordenada com a Organização das Nações Unidas e que velaria pela parte normativa e judicial, em termos de resolução de conflitos e sanções. Buscamos coordenar os interesses privados e os públicos relativos ao uso da água. Nesse contexto, não temos problemas quanto a entregar concessões (a particulares) para seu uso e tratamento, mas não aprovamos a entrega de soberania e de propriedade da água, porque esta deve ser um bem público a serviço da humanidade. Buscamos colocar limites ao uso da água como mercadoria.

TERRAMÉRICA: Que recepção espera ter na conferência de dezembro em Copenhague, onde continuarão as negociações para o tratado pós-Kyoto?

MB: Já tive uma reunião com Ricardo Lagos (presidente do Chile entre 2000 e 2006 e um dos três enviados especiais para mudanças climáticas nomeados pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon). Apresentei esta iniciativa e ele se mostrou disposto a receber as conclusões e acertar uma entrevista com Gorbachov para ver como se pode incluir a questão da água no acordo pós-Kyoto. Já foram estabelecidas as perspectivas de ligação.

TERRAMÉRICA: Quais diferenças existem entre este projeto de Protocolo da Água e iniciativas anteriores?

MB: Uma das coisas mais importantes é que o documento facilitará uma pré-negociação entre países. Na primeira conferência, em Bruxelas. estará reunida uma grande quantidade de pessoas, muito legitimadas em todos os campos: político, cientifico e social. Este documento, com esta legitimação, servirá de base para uma segunda rodada de negociações entre Estados. E, quanto tivermos uma massa crítica, levaremos as negociações à ONU. Agora, por que um status particular para a água? Porque é um elemento vital e, se seu uso não for regulamentado, será fonte de conflitos maiores. Se hoje as guerras são pelo petróleo, no futuro serão pela água. Se temos uma cultura de paz e queremos nos adiantar aos grandes conflitos que a humanidade vai enfrentar, temos que deixar avançar o processo de regulamentação do uso da água.

TERRAMÉRICA: A América Latina é uma região estratégica em matéria de reservas de água doce. Com avalia sua proteção?

MB: É uma região estratégica porque tem aqüíferos (águas subterrâneas), rios muito grandes, como o Paraná e o Amazonas, e geleiras. É abundante em água, que está ameaçada. Vejo os governos preocupados em dar à população acesso à água. O que não vejo muito é uma distribuição mais eqüitativa de seu uso e uma proteção, direta ou indireta. Por exemplo, o derretimento de geleiras é um fenômeno mundial, mas no Chile e países andinos ainda não se assume a gravidade da situação. Não vejo políticas de conservação, prevenção, coleta de água no sentido de criar novas infra-estruturas que permitam utilizá-la melhor. Se isso continuar, milhões de seres humanos ficarão sem sustento de vida.

* A autora é correspondente da IPS.

http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3043&olt=405

 

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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dia da Terra, uma questão de atitude



Neste ano, o terceiro do milênio no qual depositamos tantas esperanças, comemorar o Dia da Terra exige reflexão e compromisso. O planeta não vive seus melhores dias e nós, a assim chamada "espécie superior", andamos inseguros a respeito de nossa própria capacidade de fazer deste um mundo melhor. O signo é de guerra, unilateralidade na resolução de conflitos, arreganhos do crime organizado, sensação de anomia e de abandono dos valores que costumavam ser nossas balizas, construtores de sentido existencial e códigos para ajudar a decifrar a essência da condição humana. Nesse clima, falar de paz virou coisa séria. Não basta a estética, nem mesmo a ética, ou a inocência, ou o devaneio. É preciso militância. E não só a das ruas, circunstanciais e emotivas. Agora é também questão de escolha racional, com as conseqüências que isso envolve. É preciso que a paz seja uma opção política.

Ainda temos nos olhos as cenas terríveis do Iraque, pessoas sendo despedaçadas pela morte ou mutilação física e psicológica, pela destruição de suas referências. Mas, na contabilidade da guerra, são apenas danos colaterais, assim como o cerceamento da liberdade de imprensa e a perda de bens do patrimônio histórico da humanidade. Mesmo aqui, a salvo deste horror, sentados no sofá diante da TV, somos atingidos pela perda de valores, sentimos que nossa vida também ficou pior. E sabemos que temos que fazer alguma coisa. Não lá no Iraque. Aqui. Dentro da nossa casa, na nossa vizinhança, na nossa cidade, no nosso país. No Dia da Terra, ou pensamos nisso tudo ou será uma data lamentavelmente vazia. Ela pode ser um símbolo forte do que parece estar-se perdendo: os valores humanos, espirituais e os naturais, entendidos, esses últimos, como aqueles que remetem à ligação essencial de cada um com o habitat planetário, obscurecida pela aparente auto-suficiência da tecnologia e dos "poderes" humanos.

Há certo consenso a respeito da proteção ambiental. Todos são a favor, mas, boa parte, só se for no "meio ambiente" alheio. Quer-se o bem da floresta amazônica, já as obrigações ambientais da empresa... Salvem-se as tartarugas e baleias, já reduzir o próprio lixo...Combata-se a poluição, mas não o uso intensivo do carro particular. As unanimidades em prol da paz, do meio ambiente, do combate à pobreza, às vezes esquecem que é preciso construir na prática a solução para aquilo que incomoda a consciência. E que a construção começa no indivíduo e no que ele está disposto a fazer - ou a deixar de fazer - para a vida melhorar. Esta sim é uma questão de atitude. Continuamos a produzir desastres ambientais e humanos. Eles lembram que ainda estamos na barbárie. A civilização de fato avançada ainda está a caminho e é tarefa para muitas gerações. Agride-se a Terra porque ela é vista apenas como fonte e suporte de bens para o mercado; destroem-se pessoas porque são vistas apenas como consumidoras e contingentes geopolíticos. Não sem razão o petróleo é um personagem tão destacado nas guerras presentes e passadas no Oriente Médio.

Também não sem razão as causas ambientais cada vez mais se confundem com seu espelho social e ético. Hoje procuramos soluções socioambientais, não só ambientais. Falamos em justiça ambiental como parte intrínseca da justiça social. A qualidade de vida é direito humano, assim como a saúde, a educação, a habitação. E acumulam-se evidências de que a atividade econômica não precisa ser predadora. É desejável, viável e factível o caminho do desenvolvimento sustentável. Nada foi e nada será fácil na trajetória dessas idéias, mas elas se impuseram como alternativa e conquistaram adesões - ou, no mínimo, provocaram constrangimentos - em todos os segmentos da sociedade. Mexeram naquele recanto da mente e das emoções no qual está intacta a necessidade de ideais comuns e a crença de que um mundo melhor e sustentável é possível. Nós procriamos e criamos; é inevitável ter amor pelo futuro e compaixão pelo presente. O Dia da Terra exige uma atitude.

por:  Marina Silva








http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/diaterra.html

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Água poluída mata mais que violência no mundo, diz ONU



22/03/2010
da Reuters, em Abidjan

ONU defende urgência de preservação


A população mundial está poluindo os rios e oceanos com o despejo de milhões de toneladas de resíduos sólidos por dia, envenenando a vida marinha e espalhando doenças que matam milhões de crianças todo ano, disse a ONU nesta segunda-feira (22).


"A quantidade de água suja significa que mais pessoas morrem hoje por causa da água poluída e contaminada do que por todas as formas de violência, inclusive as guerras", disse o Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês).

Em um relatório intitulado "Água Doente", lançado para o Dia Mundial da Água nesta segunda-feira, o Unep afirmou que dois milhões de toneladas de resíduos, que contaminam cerca de dois bilhões de toneladas de água diariamente, causaram gigantescas "zonas mortas", sufocando recifes de corais e peixes.O resíduo é composto principalmente de esgoto, poluição industrial e pesticidas agrícolas e resíduos animais.

Falta água limpa

Segundo o relatório, a falta de água limpa mata 1,8 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade anualmente. Grande parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento, que lançam 90 por cento da água de esgoto sem tratamento.

A diarréia, principalmente causada pela água suja, mata cerca de 2,2 milhões de pessoas ao ano, segundo o relatório, e "mais de metade dos leitos de hospital no mundo é ocupada por pessoas com doenças ligadas à água contaminada." O relatório recomenda sistemas de reciclagem de água e projetos multimilionários para o tratamento de esgoto.

Também sugere a proteção de áreas de terras úmidas, que agem como processadores naturais do esgoto, e o uso de dejetos animais como fertilizantes."Se o mundo pretende sobreviver em um planeta de seis bilhões de pessoas, caminhando para mais de nove bilhões até 2050, precisamos nos tornar mais inteligentes sobre a administração de água de esgoto", disse o diretor da Unep, Achim Steiner. "O esgoto está literalmente matando pessoas."

Mudanças climáticas

O texto afirma também que as mudanças climáticas ameaçam alterar o ciclo global hídrico e que há a necessidade urgente que os setores público e privado de todo o mundo se unam para assumir o desafio de proteger e melhorar a qualidade de rios, lagos e aquíferos. Para tanto, diz o documento, a população deve se comprometer a evitar a poluição futura da água, tratando as já contaminadas, e restaurar a qualidade e saúde de rios, lagos aquíferos e ecossistemas aquáticos.

"A qualidade da água se tornou uma questão global", diz o comunicado, lembrando os milhões de toneladas de esgoto e dejetos industriais e agrícolas que são despejados diariamente nos rios. Em consequência dessa prática, mais pessoas morrem por contato com água contaminada do que a soma de todas as formas de violência, sendo que os mais atingidos são crianças menores de cinco anos.

Poluição desvantajosa

Além da questão humana, o relatório fala sobre as perdas econômicas decorrentes, lembrando que a falta de água e de instalações sanitárias, apenas na África, são estimadas em US$ 28,4 bilhões, o que significa cerca de 5% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

A boa notícia, lembra a ONU, é que soluções são implementadas em vários lugares. Mas a entidade diz que atitudes corajosas precisam ser tomadas nos âmbitos internacional, nacional e local, já que o assunto precisa ser tratado como prioridade global, pois a vida humana depende de nossas ações tomadas hoje. O documento é encerrado com a frase "água é vida".

http://www.portalodm.com.br/agua-poluida-mata-mais-que-violencia-no-mundo-diz-onu--n--333.html

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