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terça-feira, 25 de maio de 2010

Usinas no Rio Tapajós alagarão áreas protegidas

15/05/2010 - 08h01



As cinco hidrelétricas que o governo planeja construir na região do rio Tapajós, no Pará, afetarão diretamente 871 km² de áreas protegidas de floresta, uma área equivalente a metade da cidade de São Paulo.

O cálculo foi feito pela Folha com base em dados do estudo de inventário hidrelétrico dos rios Tapajós e Jamanxim, produzido pela Eletronorte e pela Camargo Corrêa.

Segundo o relatório, preliminar, deverão ser alagadas pelos reservatórios das usinas porções de dois parques nacionais e três florestas nacionais. Somados, os reservatórios das cinco hidrelétricas terão 1.979 km² de área.

Parques nacionais são unidades de conservação integral. Nenhum tipo de atividade que não seja a pesquisa científica ou o turismo é permitido nessa categoria de área protegida.

Na área de influência das usinas existem dois: o parque nacional da Amazônia, o primeiro a ser criado na região Norte, em 1974; e o parque nacional do Jamanxim, criado em 2006.

As Flonas permitem exploração econômica sustentável, mas não permitem a instalação de usinas hidrelétricas.

Isso, porém, está mudando. No dia 9 de abril, o governo publicou um decreto que permite autorizar estudos para hidrelétricas em quaisquer unidades de conservação, bem como instalar linhas de transmissão em unidades de uso sustentável.

O decreto tem por objetivo liberar a realização dos estudos e relatório de impacto ambiental (EIA-Rima) das usinas do Tapajós, condição necessária para o licenciamento das obras.

Hoje, eles não podem ser feitos porque a lei do Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) não permite que um parque autorize atividades que visam alterá-lo.

Ou seja, os técnicos da Eletronorte não podem nem mesmo entrar nos parques para fazer, por exemplo, levantamentos das áreas a serem afetadas. No inventário, as estimativas foram feitas com base em fotos aéreas e medições feitas de dentro dos rios.



Zona sensível

Após as polêmicas ambientais envolvendo as usinas do rio Madeira (RO) e Belo Monte (PA), o governo estuda com cautela seus próximos passos energéticos na Amazônia.

A região do Tapajós tem, por um lado, um potencial enorme: é a última área de queda entre o Planalto Central e a bacia amazônica que ainda não tem uma megausina. Esta, São Luiz do Tapajós, a principal do complexo, deverá ser a terceira maior do país, com 6.133 megawatts de potência instalada.

Por outro lado, a região é rica em biodiversidade e abriga uma das principais porções de floresta intocada do Pará.

Praticamente toda a zona de influência das hidrelétricas está em unidades de conservação, a maioria no rio Jamanxim. Elas foram criadas em 2006, como parte do plano de contenção do desmatamento no eixo da rodovia BR-163.

Só no parque nacional da Amazônia foram registradas 425 espécies de ave, 370 de planta e 103 de mamífero. "Essas informações são parciais, porque os levantamentos só foram feitos nas áreas de fácil acesso", ressalta Allyne Rodolfo, bióloga do parque.

O ministério de Minas e Energia aposta em um novo conceito de hidrelétrica para essas áreas sensíveis: as "usinas-plataforma".

Segundo o ministro Márcio Zimmermann, as usinas-plataforma são construídas de forma a minimizar o desmate. Após a construção, os canteiros de obras são abandonados para que a floresta se regenere.

O conceito ainda não foi testado em lugar nenhum do mundo. "Parece ser mais um exercício de 'greenwash' [propaganda enganosa verde] do que uma proposta séria", afirma Aviva Imhof, da ONG International Rivers Network.

Mesmo minimizando o desmatamento no entorno, as usinas-plataforma causarão impacto direto à fauna e à flora na área dos reservatórios.

"Muitas espécies de peixes migratórios não vão conseguir mais subir o rio para desovar. Muitas espécies de peixes ornamentais que habitam as margens protegidas e rasas vão desaparecer. Muitas espécies de araras que habitam os buritizais e outras palmeiras das várzeas vão perder seus ninhos", diz Maria Lúcia Carvalho, diretora do parque da Amazônia.

Plataforma polêmica

Com as usinas do Tapajós, o governo espera suavizar a oposição dos ambientalistas e ao mesmo tempo aproveitar o potencial de geração de energia da Amazônia.

Para isso, inspirou-se na forma como as plataformas de petróleo são feitas e operadas. A ideia é evitar o crescimento explosivo das cidades e do desmatamento, até hoje consequência obrigatória da construção de usinas.

Segundo o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o conceito de usina-plataforma nasceu de "uma constatação de realidade": há muito potencial para explorar em áreas não antropizadas, mas ninguém quer mais o desenvolvimento predatório da Amazônia.

"Você já viu nascer alguma cidade em uma plataforma marítima?" --questiona. Segundo ele, a construção seria feita de forma a impactar só a área do canteiro de obras, que seria depois abandonada para a regeneração da mata.

A operação posterior das usinas-plataforma seria feita remotamente. "Isso inclusive reduz o custo", diz Zimmermann.

O presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello, diz que as áreas protegidas do rio Jamanxim foram criadas quando as usinas já estavam em estudo, em 2006. "Já se sabia do risco." Ele diz que as usinas-plataforma ainda precisam ser "objetivadas", mas que é simpático à ideia. "As duas áreas podem ganhar."


 
 


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terça-feira, 18 de maio de 2010

¿Belo Monte? eis a questao!

Materia bem legal e cheia de informaçoes úteis, para a gente melhor entender o caso Belo Monte.
Foi  escrita pelo colunista do Yahoo! Brasil, Lúcio Flávio Pinto - ele é paraense de Santarém; tem 60 anos e é jornalista há 44. Passou por algumas das principais publicações brasileiras, e hoje é editor do Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que circula em Belém desde 1987. Já recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, além do International Press Freedom Award. Tem 15 livros publicados, a maioria sobre a Amazônia. Escreve a coluna Cartas da Amazônia quinzenalmente, às quartas-feiras. 

Mais de 70% da energia que é gerada no Brasil sai dos rios. Mesmo com a consciência que se tem hoje, sobre os danos que as grandes barragens causam ao meio ambiente e que, por isso, agora precisam ser compensados, a energia hidráulica ainda é a mais barata e a que menos polui. É uma vantagem enorme para o Brasil tê-la como a base da sua matriz energética.

O problema é que os rios mais próximos aos principais centros de consumo do país, nas regiões Sul e Sudeste, estão com seu potencial quase exaurido. Resta a bacia amazônica, a maior do mundo. Se os rios já inventariados na região fossem plenamente utilizados, a atual capacidade instalada de energia poderia ser duplicada. Nenhum outro país dispõe de uma reserva desse porte e com características tão vantajosas. Só a hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, a quarta maior do mundo, responde por 8% de toda energia que circula em território brasileiro.

Um terço dos seus 8,3 mil megawatts vai para duas das maiores indústrias mundiais de alumínio (uma em Belém e outra em São Luís do Maranhão), um terço para o sistema integrado nacional e só o terço restante fica no Pará, onde a usina foi instalada. Fora dos enclaves especializados em bens eletrointensivos, como os de alumínio, cobre ou silício, a demanda interna amazônica por energia dispensa a construção de barragens de alta queda, sem as quais não é possível produzir muita energia. Mesmo sendo volumosos, os rios da Amazônia têm baixa declividade natural, incapazes, por isso, de movimentar as gigantescas turbinas de maior potência, que precisam de pelo menos de quedas de 60 metros.

É por causa da parte mais desenvolvida do Brasil que ainda se projeta grandes barragens para a Amazônia. Mas além dos problemas que acarretam à natureza e aos habitantes das margens dos cursos d’água, essas obras exigem a construção de extensas linhas de energia em alta tensão, medidas em milhares de quilômetros. As que se encontram em operação já estão com sua capacidade comprometida.

Às vezes esse “detalhe” é esquecido. Ou omitido, como parece ter acontecido em relação a Belo Monte, no Xingu, também no Pará (hoje, o quinto maior produtor brasileiro de energia e o terceiro que mais transfere energia bruta para fora dos seus limites). Discute-se quanto custará a geração, entre os R$ 19 bilhões do orçamento oficial e os R$ 30 bilhões calculados pelo “mercado”. Mas se esquece que a transmissão poderá ultrapassar a 80% desse valor. E até agora não foi considerada, embora constitua um dos problemas mais sérios de um projeto hidrelétrico: por seu custo elevado, as perdas que sua extensão acarreta, a impossibilidade de disseminar a eletrificação pelo seu trajeto e problemas de segurança.

Em 1989, quando foi definida a viabilidade do aproveitamento hidrelétrico do Xingu, a Eletronorte previa a construção de uma única barragem, no fim da Volta Grande do rio, na qual haveria uma única casa de força, com 20 turbinas. A represa inundaria 1.225 quilômetros quadrados, estocaria água suficiente para a produção de 11,2 mil megawatts no pique das cheias e uma geração firme próxima de 50%. Era um projeto semelhante ao de Tucuruí, que antecedeu a legislação ambientalista, iniciada em 1981.

Em 2008, quando o inventário do Xingu foi atualizado, o projeto mudara. O eixo da barragem foi relocado rio abaixo. A área de inundação foi reduzida para 516 quilômetros quadrados, dos quais 382 km2 no leito do próprio Xingu (apenas 40 km2 de área nova, situada além dos limites alcançados pelas cheias anuais do rio). Os outros 134 km2 constituiriam o que passou a ser chamado de “reservatório dos canais”, a maior inovação do projeto de engenharia.

Reposicionada para o início da Volta Grande, a barragem desviaria as águas do Xingu para canais artificiais, que aproveitariam as drenagens naturais nesse trecho da bacia, transformando-as num vertedouro, através de uma sucessão de diques de terra e de concreto, com maior volume do que o canal do Panamá. Assim, a água seria conduzida até a casa de força principal, bem longe da barragem, valendo-se de um desnível de 90 metros.

No auge da cheia, haveria água suficiente para movimentar as enormes máquinas, cada uma das quais precisando de 500 mil litros de água por segundo. Mas na maior estiagem simplesmente a vazão do Xingu seria insuficiente para colocar a usina em funcionamento. Ela ficaria parada. É a deficiência das hidrelétricas chamadas “a fio d’água”, que não têm estoque formado para o verão. No Xingu, a diferença entre as duas etapas de vazão chega a 30 vezes.

Agora, imagine-se um projeto que eliminasse o reservatório dos canais, mantendo apenas a barragem no eixo do rio e a casa de força secundária. As oito máquinas a serem instaladas na barragem têm capacidade para 233 MW, potência que equivale a menos da metade de uma única das 20 máquinas da casa de força principal, situada a 50 quilômetros, rio abaixo. Mas o suficiente para abastecer quase a metade da população de Belém.

No Relatório de Impacto Ambiental de Belo Monte, os técnicos afirmam, estranhamente, que essa população “corresponde aproximadamente a três milhões e meio de pessoas”. A população de Belém é de 1,5 milhão de habitantes. Logo, a metade deveria ser de 750 mil pessoas. Qual então o valor certo: 750 mil ou 3,5 milhões de pessoas, que correspondem exatamente à metade da população de todo o Estado do Pará? O Rima não diz e esta se constitui em uma de suas falhas, pequena, talvez, mas gritante.

É uma potência insignificante, se comparada aos 11,2 mil MW da capacidade a ser instalada na casa de força principal (apenas 2% dela). Mas as melhores estimativas são de que a energia média de Belo Monte será inferior a 4 mil MW, elevando o percentual da usina secundária para 5% da grande hidrelétrica.

Fazendo-se outra correlação, porém, verifica-se que, se Belo Monte fosse reduzida à casa de força complementar, sua potência seria uma vez e meia maior do que o parque eólico de Osório, a quarta mais importante cidade do Rio Grande do Sul. Nela, 75 torres de 100 metros de altura, com turbinas acionadas pelo vento, irão gerar 150 MW, o suficiente para abastecer 400 mil pessoas.

A barragem do Xingu, inundando uma área de 382 km2, dos quais apenas 40 km2 excederiam as cheias naturais do rio, abasteceria com energia toda a rodovia Transamazônica e iria além: garantiria disponibilidade para absorver incrementos exponenciais no consumo, incluindo indústrias que fossem atraídas para a região.

Como todas as turbinas são do tipo bulbo, que funcionam com água corrente, em desnível de 20 metros, sem precisar da criação de declividade artificial, a usina funcionaria o ano inteiro. Sem a enorme movimentação de terra e concreto exigida pelo atual projeto, e dispensando as caríssimas turbinas Francis, em quanto ficaria o custo dessa hidrelétrica?

Quem sabe, 2% ou, no máximo, 5% dos R$ 19 bilhões previstos pelos cálculos oficiais, ou muito menos ainda se considerados os R$ 30 bilhões estimados pelos empreiteiros, provavelmente mais próximos da realidade. E sem os impactos – que a grande e problemática obra provocaria. Por que não testar uma mini-Belo Monte, que já está desenhada no projeto, antes de se arriscar com um mastodonte sujeito ao descontrole?

Fica a sugestão. Espero que ela seja levada na devida conta antes de se consumar a aventura com destino incerto e não sabido, como deverá ser a Belo Monte atual. Voltada para manter a condição colonial da Amazônia, que manda sua energia bruta para longe, ao invés de desenvolvê-la de verdade.

Por Lúcio Flávio Pinto
FONTE: http://colunistas.yahoo.net/posts/2072.html



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